A Chave Mestra
Sou o verso do poeta,
A obra do pintor,
A aquarela do compositor.
Ando pela estrada,
Ando pela chuva,
Tudo passa e nada fica.
O amor convida a todos para jantar,
Mas não se come quando está sem fome.
Em compensação, perde-se o doce sabor,
Da deliciosa comida, ali estendida.
Por que lutar contra um sentimento
Que vem tão forte e pede para ficar?
Por que não se entregar
A dádiva mais rica que pode nos encontrar?
As chaves são várias
Mas as fechaduras são poucas,
Não há como testar.
Por isso sou chave solitária,
Até que a minha fechadura venha a me encontrar.
Sou chave mestra, chave única,
Fruto de um casal de chaveiros,
Que me criaram para um único objetivo,
A fechadura certa encontrar.
Tarefa árdua e sem retorno,
O amor é assim, por isso vale a procura.
Não deixarei a luta, mas não lutarei,
Não deixarei o beijo, mas não beijarei.
O vento há de trazer a resposta sábia do que procuro,
A fechadura em forma de flor que,
Sendo primordial ao meu futuro,
É a única a acabar com esta tão malfadada solidão,
E trazer-me a sonhada e distante alegria,
Que tanto rezo em meus sonhos.
Sou chave..., mas sou humano.
Mauro Veríssimo.